Cem anos de solidão nos revela a saga desta família tão ímpar e cíclica.
José Arcadio
Buendía e Úrsula Iguarán, primos que se casaram e que temiam gerarem filhos com
rabos de porco, abandonaram sua cidade natal e partiram junto com alguns conterrâneos
em busca de uma nova terra. Fincaram
raízes em um local aleatório e o batizaram com o nome de Macondo. Acompanhando a história dos
Buendía, vivenciamos também a criação, vida e morte do povoado.
O casal matriarca de Macondo teve três filhos: José Arcadio, Aureliano e Amaranta. Logo depois chegou Rebeca, sozinha, junto com um saco de ossos de seus pais, comedora de terra, marcada pelo mal da insônia e também pela solidão. Durante a saga dessa família, que se reproduz até a sétima geração, temos elementos inacreditáveis, descobrimos que Macondo é um povoado em que tudo pode
acontecer: temporais que duram mais de dez anos, formigas-ruivas que destroem
construções, escorpiões durante os banhos, borboletas amarelas que acompanham
os apaixonados, a insônia some com a memória de todos....
É também a
terra das Rebecas, Amarantas, Úrsulas, Remédios e das dezenas de José Arcadios
e Aurelianos... Nomes que insistem em serem repetidos.... São pessoas isoladas, ressentidas, extravagantes....
solitárias. Essas pessoas, além de terem em comum os mesmos nomes e sobrenomes, possuem,
como que geneticamente, uma solidão que nunca é sanada – e quase sempre nunca
externalizada. E essa solidão é personificada nos peixinhos dourados do Coronel
Aureliano Buendía, nos doces caramelizados de Úrsula Iguarán, nos pergaminhos e
livros que tanto instigaram os Aurelianos... que vão e voltam. É um ciclo único, uma família única, em que os antigos sempre retornam nas maneiras dos novos.
A história
desenrola-se ao longo desses cem anos, dessa louca geração de filhos, netos,
bisnetos e bastardos. A matriarca, Úrsula Iguarán – que eu já tinha citado aqui
como umas das mulheres mais influentes da literatura – foi uma guerreira que viveu entre 115 e 122 anos (!!!) é a única que se dá conta
que as características físicas e psicológicas dos seus herdeiros estão associadas
aos nomes: enquanto os José Arcadios são extrovertidos e impulsivos, os Aurelianos
são introspectivos e estudiosos.
Mal sabia Macondo que o seu destino já estava
escrito desde a época que um certo cigano Melquíades por lá andara, e que seus
dias estavam contados.
Gabriel Garcia
Marquez quando escreveu esta obra-prima, no longínquo ano de 1967, utilizou o
realismo mágico de forma detalhista e encantadora. Cem anos de solidão me
conquistou mais do que O Amor no Tempo do Cólera – talvez eu tenha me
identificado com o primeiro José Arcadio, que passou o resto dos seus dias
preso à um castanheiro por conta de sua louca lucidez... ou com Rebeca, que comia areia e o cal das paredes
para preencher um pedaço vazio dentro de si.
Pesquisando por aí, descobri que o romance tem uns traços auto-biograficos do Gabriel, já que o avô de Gabriel, o Coronel Márquez, também o levou para conhecer o gelo (assim como o primeiro José Arcadio o fez com Aureliano) e Iguarán é o sobrenome de uma de suas avós.
Será que estamos todos fadados a amar intensamente e morrer na solidão, como os Buendías?!
Ps: Os nomes dos
personagens se repetem tanto, devido à uma tradição familiar, e as mortes são tantas, que depois que
concluir a leitura do livro acho que lerei as Crônicas de Gelo e Fogo mais
facilmente! Pros curiosos que nunca leram, vejam esta árvore genealógica e
observem a quantidade de nomes iguais.
Beijos,
A.