Ela detestava
acordar ao som do despertador do celular, mas o que poderia fazer?
Despertadores de verdade, daqueles que são reloginhos redondos ou quadrados
eletrônicos, eram considerados quase que itens vintages da decoração de uma
casa. Pensou em deixar o “soneca” tocar mais uma vez, mas desistiu.
Então, levantou
num impulso. Como se tivesse sido tocada por uma descarga elétrica. É que
finalmente recordou-se da importância daquele dia 17.
O dia amanheceu
como outro qualquer do outono na cidade: cinza, abafado e com nuvens escuras
que sinalizavam posteriores pancadas de chuvas. Ou que simplesmente elas sairiam
e o sol abrira de vez. Ela, otimista como sempre, olhou pela janela e ouviu
alguns passarinhos cantarem no seu jardim. Ficou com a segunda opção e calçou
suas sapatilhas douradas novas no lugar da velha bota gasta pela chuva. Prendeu
o cabelo em uma espécie de coque e jogou um blush na cara, na expectativa de
que aquele pó trouxesse um pouco de brilho ao seu semblante. Afinal, aquele era
o dia. Seria tudo perfeito!
Ela ainda não havia
aprendido que a expectativa é um dos maiores inimigos da humanidade. Que toda vez que esperamos algo com muito
afinco, não importa o quão bobo esse algo seja, fantasiamos sobre infinitas
possibilidades que poderiam acontecer. E de repente, BUM. Acontece o que você
estava prevendo. Da maneira certinha. Sim, se você é uma personagem de
conto-de-fadas, sim. Ela achava-se personagem. Achava-se abençoada. Achava-se
entendida e realista. Mas a vida não concordava. Quem ela era para se achar tão
especial?! Ela era uma garota comum, como eu ou você, oras.
Minha querida
menina, caso ninguém tenha lhe dito ainda, sempre tem o dia em que a carta não
chega. Ou que o plano te ferra. Sempre chega o dia em que você esperará em vão
por algo que não se concretizará ou alguém que não virá. O vôo atrasará. A
sessão lotará na sua vez. Você chegará atrasada naquela reunião que você iria
apresentar seu negócio. E que seu nome não estará naquela temida lista. Mas, e
agora?
Ela chegou em
casa com as sapatilhas enlameadas, coração queixoso e rosto borrado. O coque
pendia para o lado, inconstante. Sentou-se no parapeito da janela,
desacreditada, e pôs-se a observar o céu. Perdeu-se, então, no barulho do choro
de ambos. Não sabia se quem mais chorara naquele período: se fora ela ou ele. Porém,
não sabia também o momento exato em que resolvera levantar impetuosamente, tal
como de manhã.
Foi como se
uma fada tivesse soprado no seu ouvido: “O importante, garota, não é como
aquela adversidade conseguiu te atingir. O que passou, não importa. O que
passou não tem nada novo a te dizer. O importante é como você reagirá a tudo
isso, menina. Portanto, enxugue as lágrimas. Agradeça o mínimo de bom que tenha
lhe acontecido. E o de ruim também, afinal tudo nesta vida é experiência.”
Então, ela
enxugou o rosto molhado com a palma da mão. Prendeu o soluço. Desatou o coque. Tomou
um banho, expulsou aquelas energias, e decidiu dormir, para que tudo de ruim
que lhe tinha acontecido ficasse nesse dia 17 e não tivesse mais nada para
dizer a ela do dia 18 em diante. Do que tinha acontecido nesse dia, ela não
contaria a ninguém.
Muiito bom!!
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Belo texto, Agnes!
ResponderExcluirEstava com saudade de vir aqui te visitar e te ler.
Espero que estejas bem.
O blog está lindo!
Um beijão, cheio de carinho.
Boa semana. :-**
Adorei esse trecho: "Ela ainda não havia aprendido que a expectativa é um dos maiores inimigos da humanidade. Que toda vez que esperamos algo com muito afinco, não importa o quão bobo esse algo seja, fantasiamos sobre infinitas possibilidades que poderiam acontecer."
Excelente!
ResponderExcluirSeu texto conseguiu sintetizar aquela ansiedade e otimismo sem contexto que sentimos em determinadas situações - inclusive me fez lembrar de uma experiência não muito feliz envolvendo expectativas que tive não faz muito tempo.
Você está certa em dizer que as coisas passam: se algo não dá certo, o jeito é trabalhar até que dê, mesmo.
Abraço!
Clara
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