Maria costumava dizer que um dia iria mudar de vida, tudo iria ser diferente. Como nada de novo lhe acontecia, acreditava que aquela mesmice era o fardo de um nome tão ordinário. Decidiu, então, transformar-se em novas mulheres: acordava Tereza, almoçava Cecília, tomava chá Beatriz e dormia Jordana. Apesar dos novos nomes, apercebeu-se sempre a mesma, sem graça e sozinha. Por fim, cansou-se de tudo isso e decidiu ser apenas Maria.
29 outubro 2013
23 outubro 2013
Coisas duráveis
Volta
e meia escuto minhas tias mais velhas reclamarem que as coisas hoje em dia são
totalmente desprovidas de qualidade. As panelas
de antigamente. Ai, como o cobre durava! As peças de roupas, todas costuradas
pela vizinha, eram usadas por todos os irmãos - e olhe que meus avós tiveram 16
filhos. Os utensílios domésticos, que eram passados de pai para filhos como
herança. É, ainda temos alguns aqui, assim como toalhas e lençóis incrivelmente
bordados à mão.
Porém, nenhuma
das minhas velhas tias jamais observou - ao menos perto de mim - o que mais
caiu de qualidade nessa terra de loucos: as relações humanas. Casamentos que outrora duravam quarenta ou
cinquenta anos foram substituídos por relações frágeis como um nó dado por uma
criança. Hoje parece que qualquer coisa pode ser substituída facilmente através
de uma simples ida ao shopping, inclusive pessoas. Ao sinal de qualquer
desentendimento, as pessoas preferem se afastar e levarem suas fingidas vidas.
Ainda não conheci ato tão
bonito quanto o de se desculpar. De correr atrás. De mostrar que se preocupa.
De que aquela pessoa, seja sua mãe, amiga, namorado, ou até mesmo um vizinho, é
importante pra você, que você se interessa pelo modo que ela sente e enxerga
cada acontecimento. Reconhecer o erro, mesmo que esteja certo. Eu muitas vezes
já dei minha cara à tapa nesse sentido, tola romântica que sou. E quão não foi
a surpresa ao observar que, muitas vezes, aquela pessoa que eu tive o cuidado
de dizer me perdoa pisou também na
bola comigo e simplesmente ignorou o fato?
Sou boba, eu
sei, já me convencieram disso. Por
acreditar que as pessoas deveriam perceber que não somos de plástico,
substituíveis e sem emoções, como os produtos que lotam prateleiras por aí... Somos,
em verdade, como o papel. Uma vez usados, temos em nós marcas que nos seguirão
por toda a vida, positivas ou negativas. Porém, mesmo as que forem negativas
podem ser alteradas, seja com um corretivo, com um borrão malfeito de grafite (“ah,
vamos deixar isso pra lá!”) ou, em casos mais complicados, em processos de
reciclagens.
O fato é que
somos humanos. Estamos em constante processo de mudanças, evolução. Sabemos
ferir, mas também podemos aprender a pedir perdão e a desculpar os outros. E
por desculpar não quero dizer esquecer, apenas seguir em frente sem mágoas.
Talvez é esta coragem que falte aos transeuntes mais novatos neste planeta, coragem que talvez as minhas tias poderiam ensinar, mas até elas mesmas se esqueceram de como até mesmo as relações humanas eram, antigamente, eram mais duráveis.
22 outubro 2013
"Sdds"
Na era da tecnologia, da
informação e das redes sociais, somos cada vez mais estimulados a correr contra
o tempo, a responder e-mails e mensagens no impulso, compendiar encontros. No
vício, diversas palavras da língua portuguesa já foram abreviadas e suas siglas
são de conhecimento comum: vc, td, mt, qr, etc. Você poderia me perguntar se eu
gosto dessa tendência. Defensora da boa escrita e dessa língua ímpar, afirmo
sem hesitar que não. Acredito que tudo é mais bonito quando completo, até mesmo
as palavras.
Mas
isso não quer dizer que eu não me utilize desses recursos. Como usuária assídua
da internet, sou vítima sem perdão desses e de outros vícios que não devem ser
mencionados. Escrevo como uma desvairada, que mistura palavras longas e
formosas, para que estas não fiquem empoeiradas nas gavetas de minhas memórias,
com palavras curtas e sintetizadas, na esperança de que aqueles cinco minutos
sejam suficientes para responder as novas 137 mensagens no whatsapp.
Foi
através desse aplicativo que observei o uso constante de uma nova abreviação: “sdds”.
Ai, gente. Tá aí. Se tem uma palavra que eu não consigo abreviar é “saudade”. Já
tentei, já até digitei, mas sempre corrijo antes de enviar, e acabo perdendo
mais tempo do que se tivesse digitado correto desde o início.
Saudade
é uma coisa tão brasileira, tão calorosa, tão única e imensurável, que é impossível
resumir em quatro letras ou em duas consoantes. Será que ali vai caber tudo que
aquele verbete almeja sintetizar? Se é pra sentir uma saudade simplificada,
melhor sentir “falta”. Saudade é m a i o r. É como a “paciência”, do Lenine.
O cotidiano já
nos obriga a apressar tanta coisa, a ser mais razão e menos emoção em tantas situações, mais práticos... Sufocamos e calamos tanta coisa dentro de nós. Será que nem permissão temo para escrever
saudade, como todas as suas letras, sons e significados?
Saudade
é palavra latina, intraduzível, inexplicável. É vocábulo que nos abraça, pra
ser sentido por completo. E EU ME RECUSO a simplificá-la. Recuso-me a
senti-la pela metade, ligeiramente, sem alma. Vai saber se teremos tempo para
dizê-la ou senti-la mais uma vez... vai saber.
Começando... um conto.
Hey,
gente! Quanto tempo, hein?! Vão perdoando o sumiço... Mas nos últimos meses
minha vida passou por momentos insanos, que envolveram: 1. TFG de arquitetura; 2. TFG; 3. TFG; (...)
54. Colação de grau; 55. Solenidade; 56. Comemorações; 57. Ainda não caiu a
ficha.
Após
onze semestres de faculdade, muitas noites em claro, seis meses na Espanha, pensamentos
que oscilavam entre amor e ódio, finalmente o ciclo se fechou. Agora sou
Arquiteta e Urbanista diplomada com láurea (UHUL!) pela UFBa. AMÉM!
Não
vim aqui para falar de como foi gratificante concluir este curso, nem para
falar dos meus projetos futuros dentro da minha graduação. Quero somente
comunicar que agora que as coisas parecem estar voltando novamente aos eixos,
vou apertar o play em algumas coisas que ficaram em stand by na minha vida – acredite,
foram muitas.
Uma
delas foi a escrita. Empolgada agora com essa onda de depressão pós-formatura +
tempo livre, me inscrevi em uma oficina de contos para ver se me empenho mais
nesta arte e se aprendo um pouco sobre os mesmos e suas facetas.
Vou
compartilhar abaixo com vocês o conto que escrevi hoje rapidamente na aula, na
minha dinâmica de apresentação. Na verdade, como comentado na aula, não foi bem
um conto, pois: 1. não tenho experiência com os mesmos; 2. ficou parecendo mais
a introdução de um romance. Culpa desse gênero que não me larga.
Na
aula, tivemos que escolher uma palavra e iniciar uma história. A minha palavra
foi: dedicação. Esta foi apenas a minha primeira tentativa, escrita em 10min.
Ao longo das semanas vocês poderão acompanhar, aqui no blog, a minha evolução.
Enfim,
sem mais delongas, eis aqui o bendito:
Os
dedos frágeis de Ana percorriam com nostalgia os embolorados porta-retratos da
cristaleira de Aurora. Na primeira imagem, ainda colorida apenas por tons em
escala de cinza, lá estava ela aos onze meses, ensaiando seus primeiros passos.
O olhar,
curioso como o de um felino, já marcava a sua personalidade, e denotava a
recusa em caminhar segurando a mão da mãe.
A
segunda fotografia trazia a menina aos seis anos, em uma daquelas antigas e
típicas fotos escolares. O mesmo olhar, a mesma sede. Você aprendia tudo num pulo,
observou Aurora.
Em
seguida, aos onze, como vencedora de um projeto para a feira de ciências. O que
a fotografia não revelava a quantidade de tardes que ela se empenhou naquele
trabalho.
Passado
os anos, Ana cresceu. A sede por coisas novas também. Tinha aprendido que
melhor do que questionar, era procurar novas perguntas sem respostas.
Ana,
a neta dedicada de Aurora. Ana, a aluna laureada do curso de Química. Ana, que
mesmo em tempos Porém,
esta mesma Ana, que tem resposta para tudo o que lhe perguntam, ainda tem perguntas
que ninguém buscou responder. É, Ana. A vida tem dessas coisas.
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