rascunhos e borrões

01 maio 2014

Conclusão

Se
encontraram,
conversaram,
divergiram,
espernearam,
brigaram,
choraram
E,
no final,
perceberam
que estavam falando
a mesma coisa.
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Dual

A farda da balconista, uma meia-calça desgastada e um vestido que teimava em lhe acentuar somente as suas imperfeições, deixava claro que Clarissa trabalha ali. Atlântida Variedades. Jaime observou bem esse e outros detalhes da moça, assim que entrou no estabelecimento.

Alto, de cabelos ralos e olhar acinzentado, era imagem fácil nas colunas sociais e entrevistas midiáticas. Não apenas por ser um rico empresário do ramo de transportes, mas sim pelas políticas socialistas que pregava em suas aparições. Ela o reconhecera na hora.

Clarissa, tão surpresa quanto enjoada de ver aquela figura em sua loja, recordou algumas palavras do último discurso dele que lera. Algo como “o bem estar social deve ser a meta dos governantes... de que adianta uma mente pensante, com tantas bocas passando fome no mundo... e, sim!, claro, o coletivo deve sempre estar à frente do individual”. Ela estremecia só de lembrar.

Ele encarou-a, antes e fazer seu pedido, e percebeu um leve lampejar em sua face. Nada anormal, julgara, afinal as pessoas não estavam acostumadas a ver famosos comprando pilhas na rua.  Era pelo bem dessas pessoas que ele lutava: pelos fracos, que não possuíam voz, bens ou mente fértil. Pelos incapazes. Se não nascemos todos iguais, temos que nos tornar.. em nome do bem estar social.


Era por ela que ele fazia aquilo, por pessoas como ela.
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27 fevereiro 2014

Eu- lírico e comentários

Tem alguns comentários inúteis que arquivo inconscientemente nas minhas gavetas mentais. Por exemplo, lembro quando tinha dez anos e minha avó me recriminou por usar uma blusa de tecido furado para ir ao clube – e isso já deve dar à vocês uma ideia do quão conservadora Dona Aurora era.

Na onda dos tais comentários, lembrei  de uma grande amiga esses dias. Estava folheando alguns dos lançamentos da Novo Conceito, e dois me chamaram a atenção por um motivo:  são escritorAs dando voz à personagens masculinos. Os livros em questão foram: Seis coisas impossíveis e Quando eu era Joe.

Carolina era metida à escritora que nem eu ainda insisto em ser, e ao ler uma fanfic de um amigo em comum comentou: “Nossa, como é estranho saber que um homem está escrevendo pensamentos de uma mulher.” Eu nunca tinha reparado nisso até o momento. E desde então nunca deixei de reparar – observem como um comentário bobo é capaz de influenciar uma vida literária inteira.

É estranho? Crescemos ouvindo dizer que homens e mulheres são bichos diferentes, que vieram de planetas diferentes, e que nunca irão se entender. Entretanto, a literatura quebra esses dogmas e paradigmas ao nos revelar que podemos ser mais iguais do que imaginamos. O eu-lírico pode ser apenas o sentimento. E sentimento, meus caros... sentimento não tem gênero, mesmo que tenha nome.

Se eu pudesse conversar com a Carolina agora, citaria exemplos como o Chico Buarque,  John Green, e tantos outros que acertadamente se apropriam do eu-lírico feminino. Ou o contrário.  Talvez ela até já não ache tão estranho assim, talvez ela mesma esteja escrevendo seus personagens masculinos em primeira-pessoa...


... mas não é tão incrível como alguns comentários... simplesmente... nos marcam? 
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14 dezembro 2013

Dente por dente

Quando li o primeiro livro da trilogia escrita por Jenny Han e Siobhan Vivian, eu não esperava nada demais. A sinopse, a capa... nada era atrativo de fato para mim. Mas eis que dei uma chance e o livro revelou-se uma grata surpresa para passar o tempo.

Recentemente, recebi da Novo Conceito a continuação do livro. Fiquei impressionada pela rapidez da publicação, sério! É até bom, assim os personagens e acontecimentos estavam fresquinhos em minha memória. Só faltou um livro um grau mais detalhado de revisão, pois os errinhos característicos da pressa estavam lá também.  

Dente por dente continua a história depois da festa de Homecoming. As três adolescentes estão preocupadas e tensas com os desdobramentos que os acontecimentos daquela noite podem trazer. Será que alguém descobrirá tudo? Os planos, a ligação entre elas? Irão presas?

É um livro em que somos convidados a conhecer melhor as protagonistas. Lillia tem que lidar com uma Rennie cada vez mais ciumenta e invejosa. Mary desespera-se ao perceber que Reeve ainda não se sente totalmente culpado pelo que fez. E Kat... bom, Kat gosta desses joguinhos.

Mesmo com o desastroso Homecoming, elas não se aquietam. Decidem, por fim, dar uma última cartada. Selar a amizade... ou não.

As primeiras páginas do livro são um pouco maçantes, recheadas de lamentações e lamúrias. Porém, conforme a história avança, atinge a mesma velocidade do livro anterior, te conquista de vez e PAM! Acelera. Supera, sem sombra de dúvidas, Olho por olho.

Sabe aquela lei da física que diz que toda ação tem uma reação? Pois é. Olho por olho, dente por dente. E que venha Fogo por fogo!


FICHA
Autores: JENNY HAN | SIOBHAN VIVIAN
  • Título: Dente por Dente
  • Selo: NOVO CONCEITO
  • Ano: 2013

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09 dezembro 2013

de coração para coração

                FATO NÚMERO 01: sick-lits¹ estão na moda. Para aqueles que não estão familiarizados com esse termo, explico:  literatura enferma, literalmente. São livros voltados para jovens envolvendo histórias de pacientes com doenças. Daí temos: A Culpa é das Estrelas, Extraordinário, Antes de Morrer, etc. São,  basicamente, dramas adolescentes que resolveram extrapolar o mundo dos primeiros amores. Neles, as narrativas são mais down e o leitor, inevitavelmente, se apega a um personagem que não sabe se estará vivo até o fim do livro.
                FATO NÚMERO 02: de coração para coração é mais um que tenta pegar carona nessa nova tendência literária. Segundo a orelha do livro, a autora sempre escreveu sobre personagens com doenças crônicas ou em fases terminais, mas como ela é completamente desconhecida no Brasil, é óbvio que só foi lançado por aqui por modinha.



        A trama se propõe a falar sobre perda, amor e renovação. Gira em torno de três personagens: Elowyn, Kassey e Arabeth. Elowyn e Kassey são melhores amigas, enquanto Arabeth nunca teve a sorte de ser amiga de ninguém. A vida das três é, repentinamente, unida de uma forma bastante trágica e inimaginável, e os destinos delas se confundem.    
Apesar da capa linda que a Novo Conceito preparou e da edição impecável, é aquele tipo de história fraca para durar mais de 200 páginas. Só existe um acontecimento extraordinário no livro, e isso é tão claro que o próprio resumo da editora no fundo entrega o livro todo de cara – porque, claramente, eles não tinham mais nada sobre o que falar.
É uma leitura rápida (01 noite!), prova de que falta um pouco mais de consistência e substância. O livro não tem a pretensão de ter mistério nenhum, o que é uma pena, pois o leitor não é convidado a supor ou imaginar nada, está tudo ali tão claro que chega até doer. O tema sugere possibilidades inúmeras, e nenhuma dela é agarrada de fato pela autora. Uma pena. Resumindo: tudo poderia ter sido melhor explorado, e muito menos poderia ter sido dito.


¹ Saiba mais sobre sick-lit aqui.
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Editado por Agnes Carvalho. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.

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