23 outubro 2013

Coisas duráveis




                Volta e meia escuto minhas tias mais velhas reclamarem que as coisas hoje em dia são totalmente desprovidas de qualidade.  As panelas de antigamente. Ai, como o cobre durava! As peças de roupas, todas costuradas pela vizinha, eram usadas por todos os irmãos - e olhe que meus avós tiveram 16 filhos. Os utensílios domésticos, que eram passados de pai para filhos como herança. É, ainda temos alguns aqui, assim como toalhas e lençóis incrivelmente bordados à mão.

Porém, nenhuma das minhas velhas tias jamais observou - ao menos perto de mim - o que mais caiu de qualidade nessa terra de loucos: as relações humanas.  Casamentos que outrora duravam quarenta ou cinquenta anos foram substituídos por relações frágeis como um nó dado por uma criança. Hoje parece que qualquer coisa pode ser substituída facilmente através de uma simples ida ao shopping, inclusive pessoas. Ao sinal de qualquer desentendimento, as pessoas preferem se afastar e levarem suas fingidas vidas.

Ainda não conheci ato tão bonito quanto o de se desculpar. De correr atrás. De mostrar que se preocupa. De que aquela pessoa, seja sua mãe, amiga, namorado, ou até mesmo um vizinho, é importante pra você, que você se interessa pelo modo que ela sente e enxerga cada acontecimento. Reconhecer o erro, mesmo que esteja certo. Eu muitas vezes já dei minha cara à tapa nesse sentido, tola romântica que sou. E quão não foi a surpresa ao observar que, muitas vezes, aquela pessoa que eu tive o cuidado de dizer me perdoa pisou também na bola comigo e simplesmente ignorou o fato?

Sou boba, eu sei, já me convencieram disso. Por acreditar que as pessoas deveriam perceber que não somos de plástico, substituíveis e sem emoções, como os produtos que lotam prateleiras por aí... Somos, em verdade, como o papel. Uma vez usados, temos em nós marcas que nos seguirão por toda a vida, positivas ou negativas. Porém, mesmo as que forem negativas podem ser alteradas, seja com um corretivo, com um borrão malfeito de grafite (“ah, vamos deixar isso pra lá!”) ou, em casos mais complicados, em processos de reciclagens.


O fato é que somos humanos. Estamos em constante processo de mudanças, evolução. Sabemos ferir, mas também podemos aprender a pedir perdão e a desculpar os outros. E por desculpar não quero dizer esquecer, apenas seguir em frente sem mágoas. Talvez é esta coragem que falte aos transeuntes mais novatos neste planeta, coragem que talvez as minhas tias poderiam ensinar, mas até elas mesmas se esqueceram de como até mesmo as relações humanas eram, antigamente, eram mais duráveis. 

2 comentários:

  1. Que texto lindo, vc está certa, infelizmente, digo isso por experiência própria, varias vezes preferi coisas materiais ás pessoas, não por ambição, mas por precaução, o problema é que sempre tem aquele medo de se apegar demais e acabar sofrendo sabe? Já sofri muito no passado por causas de "certas amizades" que agora sou muito mais cautelosa e seletiva com as minhas companhias, o ruim é que em algumas vezes, por não permitir laços mais fortes, as amizades que cultivo acabam se perdendo por coisas bobas


    http://saga-preciosa-cristal.blogspot.com.br/

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  2. Oi!
    Que texto mais lindo *0* Amei sua escrita!

    Beijos, Quemuel
    http://theworldofbooks7.blogspot.com.br/

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Editado por Agnes Carvalho. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.

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