17 maio 2013

Expectativas


Ela detestava acordar ao som do despertador do celular, mas o que poderia fazer? Despertadores de verdade, daqueles que são reloginhos redondos ou quadrados eletrônicos, eram considerados quase que itens vintages da decoração de uma casa. Pensou em deixar o “soneca” tocar mais uma vez, mas desistiu.

Então, levantou num impulso. Como se tivesse sido tocada por uma descarga elétrica. É que finalmente recordou-se da importância daquele dia 17.

O dia amanheceu como outro qualquer do outono na cidade: cinza, abafado e com nuvens escuras que sinalizavam posteriores pancadas de chuvas. Ou que simplesmente elas sairiam e o sol abrira de vez. Ela, otimista como sempre, olhou pela janela e ouviu alguns passarinhos cantarem no seu jardim. Ficou com a segunda opção e calçou suas sapatilhas douradas novas no lugar da velha bota gasta pela chuva. Prendeu o cabelo em uma espécie de coque e jogou um blush na cara, na expectativa de que aquele pó trouxesse um pouco de brilho ao seu semblante. Afinal, aquele era o dia. Seria tudo perfeito!

Ela ainda não havia aprendido que a expectativa é um dos maiores inimigos da humanidade.  Que toda vez que esperamos algo com muito afinco, não importa o quão bobo esse algo seja, fantasiamos sobre infinitas possibilidades que poderiam acontecer. E de repente, BUM. Acontece o que você estava prevendo. Da maneira certinha. Sim, se você é uma personagem de conto-de-fadas, sim. Ela achava-se personagem. Achava-se abençoada. Achava-se entendida e realista. Mas a vida não concordava. Quem ela era para se achar tão especial?! Ela era uma garota comum, como eu ou você, oras.

Minha querida menina, caso ninguém tenha lhe dito ainda, sempre tem o dia em que a carta não chega. Ou que o plano te ferra. Sempre chega o dia em que você esperará em vão por algo que não se concretizará ou alguém que não virá. O vôo atrasará. A sessão lotará na sua vez. Você chegará atrasada naquela reunião que você iria apresentar seu negócio. E que seu nome não estará naquela temida lista. Mas, e agora?


Ela chegou em casa com as sapatilhas enlameadas, coração queixoso e rosto borrado. O coque pendia para o lado, inconstante. Sentou-se no parapeito da janela, desacreditada, e pôs-se a observar o céu. Perdeu-se, então, no barulho do choro de ambos. Não sabia se quem mais chorara naquele período: se fora ela ou ele. Porém, não sabia também o momento exato em que resolvera levantar impetuosamente, tal como de manhã.

Foi como se uma fada tivesse soprado no seu ouvido: “O importante, garota, não é como aquela adversidade conseguiu te atingir. O que passou, não importa. O que passou não tem nada novo a te dizer. O importante é como você reagirá a tudo isso, menina. Portanto, enxugue as lágrimas. Agradeça o mínimo de bom que tenha lhe acontecido. E o de ruim também, afinal tudo nesta vida é experiência.”


Então, ela enxugou o rosto molhado com a palma da mão. Prendeu o soluço. Desatou o coque. Tomou um banho, expulsou aquelas energias, e decidiu dormir, para que tudo de ruim que lhe tinha acontecido ficasse nesse dia 17 e não tivesse mais nada para dizer a ela do dia 18 em diante. Do que tinha acontecido nesse dia, ela não contaria a ninguém.

4 comentários:

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  2. Belo texto, Agnes!
    Estava com saudade de vir aqui te visitar e te ler.
    Espero que estejas bem.

    O blog está lindo!

    Um beijão, cheio de carinho.
    Boa semana. :-**

    Adorei esse trecho: "Ela ainda não havia aprendido que a expectativa é um dos maiores inimigos da humanidade. Que toda vez que esperamos algo com muito afinco, não importa o quão bobo esse algo seja, fantasiamos sobre infinitas possibilidades que poderiam acontecer."

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  3. Excelente!
    Seu texto conseguiu sintetizar aquela ansiedade e otimismo sem contexto que sentimos em determinadas situações - inclusive me fez lembrar de uma experiência não muito feliz envolvendo expectativas que tive não faz muito tempo.
    Você está certa em dizer que as coisas passam: se algo não dá certo, o jeito é trabalhar até que dê, mesmo.

    Abraço!
    Clara
    labsandtags.blogspot.com

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Editado por Agnes Carvalho. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.

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